Risco de portadoras de mutação desenvolverem câncer chega a 70%


Este ano, 5 mil brasileiras terão tumores provocados por mutações. O teste genético nos serviços particulares custa cerca de R$ 6 mil.
Este ano, cinco mil brasileiras terão tumores de mama provocados por mutações genéticas. Se essas mutações forem detectadas precocemente, é possível evitar o câncer.
A prevenção pode ser radical: tirar os seios, mesmo sem qualquer sinal de doença. Foi a solução escolhida pela atriz Angelina Jolie. Outras mulheres preferem não fazer a cirurgia. Em ambos os casos, uma decisão que exige coragem.
Há um ano, Anelise convive com uma ansiedade constante. Fazer ou não o teste genético pedido pelo médico?
“Eu estou fugindo da decisão porque eu tenho medo”, revela Anelise Meyer Panassolo, farmacêutica.
A mãe dela teve câncer nas duas mamas. O primeiro, aos 32 anos. Morreu aos 42.
Drauzio: Por que razão os médicos resolveram pedir o exame?
Anelise: Eles me explicaram que por ela ter sido diagnosticada muito cedo, ela poderia ser portadora do defeito genético. Eles acham então que eu posso ter herdado esse defeito.
No nosso DNA, há dois genes que são chamados de BRCA-1 e BRCA-2. Quando eles apresentam alterações aumenta o risco de desenvolver câncer de mama e de ovário ao longo da vida. Essa característica pode ser transmitida pela mãe ou pelo pai.
O risco de uma mulher desenvolver a doença está ao redor de 10%. Para as portadoras da mutação as chances são muito maiores: podem chegar a 70% e até mais.
Anelise: Eu não quero passar o que a minha mãe passou. O meu maior desejo é poder viver com elas o que a minha mãe não pôde viver comigo.
Se não fizer o teste, Anelise vai conviver com a dúvida.
Em outro ponto do país, Priscila enfrentou o mesmo impasse. A mãe de Priscila também teve câncer nas duas mamas, além de um câncer no ovário. Faleceu no ano passado. Os médicos alertaram a família.
“Quando eles pegaram o nosso histórico dos filhos, meu, do meu irmão, da minha irmã eles falaram assim ‘é melhor investigar, principalmente o das meninas’”, conta Priscila Caterina Blatt, administradora.
Drauzio: É um exame de sangue, na verdade?
Maria Isabel: É um exame de sangue. E dos glóbulos brancos do sangue a gente vai extrair o DNA, e esse DNA vai ser avaliado.
O exame é indicado em diversos casos. Os principais são:
– Mulheres que tiveram o câncer de mama muito jovens, com menos de 30 anos;
– Mulheres que tiveram tumores nas duas mamas – como as mães da Anelise e da Priscila;
– Quando há vários casos de câncer de mama ou de ovário na mesma família;
– Ou quando há casos de câncer de mama em homens
Priscila fez o teste há quatro anos. O resultado positivo não foi surpresa.
“Foi um alívio, porque eu consegui ter uma informação para correr atrás e conseguir me prevenir”, diz Priscila.
E ela foi em frente: mesmo saudável, marcou a cirurgia para retirar as mamas.
Cely também é portadora da alteração genética. Três irmãs dela tiveram câncer de mama. Uma faleceu. Como Priscila, Cely teve que decidir.
Drauzio: quando chegou o resultado do exame. O que eles te propuseram?
Cely Sayuri, artesã: fazer a profilaxia. A retirada da mama e do ovário também em uma operação só, se eu quisesse. Resolvi só tirar o ovário.
Mulheres que retiram os ovários ficam protegidas contra esse tipo de câncer e, de quebra, reduzem pela metade as chances de ter um tumor na mama. O risco diminui, mas ainda é alto.
No caso de Cely, os exames preventivos devem ser repetidos a cada seis meses.
Se você herdou mutações no gene BRCA-1 ou BRCA-2 saiba que não existe uma recomendação única para todos os casos. Tudo depende da idade e do desejo de amamentar os filhos. A decisão final não é do médico. Deve levar em conta as expectativas da mulher.
Este ano, 57 mil brasileiras receberão o diagnóstico de câncer de mama. Desse total, cinco mil casos estão ligados a mutações genéticas. A maioria dessas mulheres não terá a oportunidade de se prevenir, como a Cely e a Priscila, por falta de acesso ao teste genético pelo SUS. O exame nos serviços particulares custa cerca de R$ 6 mil.
“Eu optei por não fazer porque o exame custa muito caro”, conta Patricia de Almeida, que teve câncer nas duas mamas.
“Eu gostaria de tentar, ter a possibilidade de tentar, um tratamento preventivo”, conta Márcia de Carvalho Carlos, que a irmã é portadora da mutação.
“Eu me sinto uma bomba relógio. Se eu pudesse fazer esse exame e desse continuidade a ele, eu me sentiria muito melhor”, afirma Denise Gomes da Silva, que teve câncer de ovário e tem parentes com câncer de mama.
“Se você quer tirar as mamas ou não, amamentar ou não, é uma escolha sua e você tem que ter o direito”, diz Bianca Petrillo, que tem parentes com câncer de mama.
Priscila pagou pelo teste genético, e agora se prepara para a cirurgia. Retirando as duas mamas, as chances de Priscila ter a doença caem para menos de 5%.
Antônio Luiz Frasson, médico mastologista: O objetivo é retirar o máximo de tecido mamário possível reduzindo ao máximo o risco de desenvolver a doença
José Tariki, médico cirurgião plástico: A gente repõe o volume mamário retirado com uma prótese de silicone, então o resultado final é muito semelhante a uma cirurgia de aumento mamário com finalidade estética.
Priscila: Hoje faz exatamente um mês que eu fiz a cirurgia. Estou bem mais tranquila. Superfeliz com o resultado. Eu achei que ficou ótimo. Numa situação como essa foi muito importante o apoio do meu marido e ele esteve comigo o tempo todo.
“A gente casou e é para sempre. Estou aí com você pro que der e vier”, diz o empresário Daniel Marcelo Blatt para Priscila.
A professora Fabricia também conta com o carinho da família. Ela descobriu o câncer de mama há quatro meses.
Fabricia: Eu nunca vi a minha família tão unida e os meus amigos tão presentes na minha vida como eu estou vendo. Se não fossem vocês comigo, com certeza eu não estaria forte suficiente para conseguir passar por isso. Eu amo muito vocês, cada um de vocês.
Alexandra Maria, amiga de Fabricia: Você não entrou nessa batalha para ganhar sozinha porque a sua batalha também é a nossa batalha.
VEJA O VIDEO ABAIXO
http://g1.globo.com/fantastico/quadros/pedra-no-caminho/noticia/2014/06/risco-de-portadoras-de-mutacao-desenvolverem-cancer-chega-70.html

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